23 de out. de 2019

CASTANHA DE CAJU DRUM AND BASS VIRTUAL DJ SET



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Quando eu morava na Lagoa da Conceição em Florianópolis eu tive uma das primeiras lições que a vida adulta pode oferecer: vizinhos.Você pode morar no paraíso, os vizinhos transformarão em um inferno. Se não é pelo que eles fazem com você, é o que eles farão consigo mesmos e invariavelmente, de alguma forma, te atingirá.




Esse meu vizinho em questão era uma pessoa indisfarçavelmente amarga, parecia ter tudo e nada ao mesmo tempo. Quase todos os dias chegava com algo embaixo dos braços ou no porta-malas do carro, algum pacote, alguma sacola, alguma caixa.

Comprava de tudo: varal novo, bicicleta, churrasqueira de tambor, pé de pato. Nunca vi ele de tênis velho, estava sempre com aqueles tênis coloridos estilo o mais recente modelo com tecnologia da NASA que ganhou os últimos cem metros rasos das últimas olimpíadas. Mas não parecia vencer a si mesmo, o olhar sempre vazio, a namorada sempre cabisbaixa e igualmente mal humorada.

Um dia então ele comprou, ou ganhou, um cachorro.

É incrível como pessoas vazias sempre em algum momento de suas vidas tentam preencher o vazio com outro ser vivo. Pode ser um cão, um gato, ou até mesmo um filho. E aí elas se tornam vazias e amargas e usam esse ser vivo como bode expiatório e saco de pancadas de suas frustrações.

O cachorro era a vítima da vez e o meu vizinho amargo (que era até então era apenas um amargo silencioso) passou a mostrar a sua verdadeira face. Sim, é quando temos alguém sob nossa responsabilidade (afetiva, profissional, física e espiritual), que mostramos quem somos. Ele mostrou.

Gritava, chutava o pote de comida, e gritava mais. Nunca vi ele agredindo o cachorro de fato, mas os gestos com braços e pernas ameaçando agredir eram uma cena constante, o que pra mim é a mesma coisa e pra um cachorro também.Em dois dias eu já não aguentava mais ouvir gritos de Tony pra cá e Tony pra lá.

E o Tony, o cachorro, correspondia latindo o tempo todo, qualquer hora do dia ou da noite. Era um Cocker Spaniel lindo e ansioso, abanava o cotoco de rabo sem parar, como quem pedia trégua ou perdão o dia inteiro. E latia.

Ele vinha na minha porta, se aproximava, abanava o rabo e latia, meu deus como latia, algo nele queria se enturmar, outro algo nele fazia ele se afastar. Cheirava algo e latia, saia correndo e latia, voltava e latia e abanava o rabo e latia mais um pouco.

Eu sabia qual era o problema: O Tony não passeava, o terreno era pequeno, ele não era treinado e fazia xixi e cocô por todos os cantos e, pelos gritos do dono, dentro da casa também. E obviamente o seu maior problema era ter um péssimo e destemperado dono. Quando eu chegava em casa ele tentava se aproximar, latia e fugia e eu sempre percebia isso como um pedido confuso de socorro.

Cachorros sabem quando estão sofrendo, e demonstram, mas cabe a nós traduzir e ajudar. Consegui algumas poucas vezes, por alguns poucos segundos, acariciar ele no queixo e entre os olhos (quando ele ficava de olhos meio cerrados e o rabo abanando na velocidade da luz) até o dono aparecer e ele do nada recomeçar a latir rouco e agudo e se afastar. Parecia treinado pra me frustrar também.

Em uma das poucas e milagrosas vezes que esse meu vizinho me olhou nos olhos e me cumprimentou eu resolvi arriscar puxar papo e me oferecer pra passear e treinar com o cachorro. Ele me encarou com um meio sorriso e continuou me ouvindo, então me empolguei e continuei falando.




Contei da minha experiência com cães e da minha paixão por eles, disse que tinha horário e vontade disponíveis. E assim a minha vida se tornou um inferno pelos próximos dois meses.

No exato momento quando terminei de falar todo o ódio que ele sentia da vida (e descontava no Tony) se materializou em mim. Gritava que eu não era ninguém pra tentar roubar o cachorro dele e que se eu me aproximasse do Tony novamente ele chamaria a polícia.

Quando eu chegava em casa ouvia ele chamar o cachorro da forma mais falsamente amorosa possível e dizendo em voz alta frases onde eu era citado como ameaça ou ligava o som do carro e atiçava o cachorro pra fazer mais barulho ainda. Ouvia Bon Jovi e 50 Cent, alternadamente e no volume máximo, e nem sei como interpretar essa lembrança.

Acordava de madrugada pra fazer barulho, fingia que o carro estava estragado pra ficar horas acelerando ou seja, esse cara era um autêntico suicida terceirizado, só esperando o momento de um dia encontrar algum louco igual ele, mas violento e assassino, pra encerrar a sua não tão breve passagem pela Terra.

A minha gota d'água foi um domingo de manhã quando abri a porta e ele estava fazendo churrasco na entrada da minha casa. Me apresentou para os seus amigos como se eu fosse o bagunceiro do terreno. Saí de bicicleta e fiquei um domingo inteiro pedalando e procurando outro lugar pra morar.

Achei.
Passei a semana inteira fazendo a minha mudança, todo dia levando uma caixa ou alguma mala ou sacola de roupas. No domingo seguinte em menos de uma hora carreguei o resto das minhas coisas no caminhão de mudanças e fui embora sem olhar pra trás. Tadinho daquele cachorro, mas o que mais eu poderia fazer? Eu precisava de paz.

Montei e arrumei a cama no apartamento novo, passei um pano na casa e organizei algumas coisas e então fui no supermercado comprar comida, jantei, tomei banho e tentei dormir. Seria a minha primeira noite de sono em paz nos últimos três meses e já era meia-noite quando apaguei a luz, me joguei na cama e deitei a cabeça no travesseiro. Um segundo depois (ou um minuto, ou uma hora, jamais saberei dizer) ele começou a latir. Ele, um cachorro, outro cachorro, mas um cachorro.

Pela primeira e única vez na minha vida eu senti ódio de um cachorro.
Sentei na cama e decidi: Eu vou matar esse cachorro, nunca mais nenhum cachorro vai estragar o meu sono, eu nunca mais vou me mudar daqui, eu vou morar aqui pra sempre depois de matar esse cachorro, eu vou sair desse apartamento agora e ver a cara desse cachorro pra não matar nenhum cachorro inocente e amanhã eu vou comprar veneno de rato, veneno de cachorro, veneno de gente e um revólver e vou matar esse cachorro. Coloquei o chinelo, vesti uma bermuda e uma camiseta e saí pra ver a cara do filho da puta mais filho da puta de toda a história de todos os filhos da puta.




Passei pelo portão do terreno, virei à direita por instinto enquanto ouvia os latidos aumentando e quando me dei por mim os latidos pararam e ali estava ele. Ele não latiu mais, mas começou a abanar o rabo e balançar a cabeça desesperadamente como quem queria dizer:

- E aí cara, até que enfim alguém me ouviu, você tem insônia também, me faz companhia?




Antes fosse só o rabo, ele abanava o corpo todo a partir das patas dianteiras. E balançava a cabeça sem tirar os olhos de mim como se eu fosse o dono escolhido por uma noite.
Virava de bunda olhando pra trás, aí virava de frente e enfiava o focinho por entre a grade do portão. E virava de bunda de novo.

Toda essa cena durou um segundo (ou um minuto, ou uma hora, jamais saberei dizer) e logo lá estava eu sentado e encostado sendo lambido, cheirado e tomando rabadas e bundadas involuntárias no rosto e no pescoço através do portão. O filho da puta simplesmente não decidia se queria carinho na cabeça ou na bunda, se era pra eu lamber o nariz dele também ou cheirar o seu cu.

Deitava no chão, virava de pé, virava de frente, virava de bunda, espirrava e rosnava engasgado como quem pedia para eu fazer o mesmo, e recomeçava.




Imagina todas as coreografias do É o Tchan! em uma dança só, no corpo de um cachorro, e talvez você me entenda. Não sei dizer por quanto tempo fiquei ali sentado no chão, mas lembro muito bem de pensar: Meu deus, por que eu pensei em matar ele?




Como é tênue a linha entre julgar alguém e se transformar nesse exato alguém na primeira oportunidade. Como é curta a distância entre a solução e a desgraça. E é o que eu tinha planejado fazer, descontar minha raiva e frustração em quem não merece, igual meu ex-vizinho. Mas ele era um cachorro, e se existem duas coisas que os cachorros dominam são o perdão e a confiança.




Talvez ele já soubesse o que eu tinha planejado e na linguagem dos cães ele já havia me perdoado e dobraria minha consciência ao meio com todas as lambidas e rabadas e bundadas que o alfabeto deles permite. Talvez ele tenha pensando: Meu arqui-inimigo está vindo, vou seduzi-lo com todo o meu sex appeal canino. Ele parecia estar há anos esperando por esse momento.

E assim foi.
Teve paradinha, twerk, rebolation e quadradinho de oito.
Irresistível.

A frase “seja o humano que o seu cão pensa que você é” nunca fez tanto sentido.

Quando enfim fui dormir não lembro de ter ouvido mais nenhum latido e dormi como um anjo de ressaca, cansado e arrependido, cheirando a vira-lata e afogado em culpa e remorso por ter pensado algo tão horrível. Mas se ele me perdoou, eu poderia me perdoar também.




Na segunda feira no fim do dia antes de entrar em casa fui lá ver ele. Um pouco tímido, talvez não quisesse me apresentar os seus donos ainda, mas igualmente amável. Agradei ele um pouco, puxei papo com o dono sentindo uma culpa interna monstruosa e fui pra casa.

Naquela noite não teve latido e dormi como há meses não dormia, corpo relaxado, mente vazia.
Na terça ele latiu de novo, com menos intensidade mas impossível de ignorar. E lá fui eu, desta vez decidido unicamente a fazer nele e receber de volta o que ele sabia fazer de melhor: Carinhos desengonçados.

Na noite seguinte não teve latido e não fui ver ele, mas na quinta para sexta ouvi apenas um ou dois latidos tímidos, que me pareceram ser apenas algo como "Humano? Tá aí?".
Óbvio que estava, e óbvio que fui lá.

Era isso. A vida havia alinhado um cachorro insone, amoroso e solitário fingindo ser vigia noturno e um recém adulto aprendendo de uma vez por todas que os animais nunca podem ser culpados pelos seus donos.




E definitivamente todos os cães merecem o céu.




Todos. Os que mordem, arranham, lambem, espirram, mijam, cagam, vomitam, rebolam, latem e destroem coisas. E amam. São coisas de cachorro, não tente entender.




Cães são apenas cães.




E vira-latas são deuses expulsos do olimpo.




Por algum bloqueio mental (chama-se culpa) não consigo lembrar o nome dele, lembro de ter perguntado para o seu dono e ter rido com a escolha. Na verdade não lembro nunca de ter de fato chamado ele pelo nome, pensando hoje na verdade eu sempre sentia vergonha quando ia ver ele.
Ele deveria é ter me mordido.




Mas pelos seis meses seguintes ele foi meu amigo de algumas noites em claro e fins de tarde preguiçosos. A cor dele era aquela cor dos cachorros mais lindos e com histórias pra contar, aquele caramelo claro clássico dos vira-latas, a mesma cor que faz todos os Golden Retriever parecerem sorvetes de creme, todos iguais, todos doces.




Ou castanha de caju, pra justificar o nome desse texto/set.
Bom, para efeitos de registro o nome dele então era Castanha de Caju, Caju para os íntimos.

E o que cachorros e castanhas de caju têm a ver com Drum and Bass? Tudo.
Cientistas dizem que agradar um cachorro, comer uma castanha e ouvir um set de Drum and Bass por dia prolonga a sua vida em 10 anos, pelo menos.

Então agrade um cachorro, coma uma castanha e ouça o set.
Fiz este para acompanhar o Pistache, outro vício e outra lembrança carinhosa da minha vida.

Drum and Bass vale pra qualquer hora do dia, pra acordar, pra dançar, pra viver.
Drum and Bass é vida.

"Drum and Bass é a pura alma das ruas, é a música da vida, ele expressa os sentimentos e aspirações de pessoas reais: seus momentos de felicidade e desespero; suas vontades, necessidades e desejos. Drum and Bass reflete o mundo em que vivemos, e ele nunca esteve tão bom." - Goldie.


Drum and Bass
Quantidade100 gramas
Água (%)4
Calorias553
Proteína (g)21
Gordura (g)63
Ácido Graxo Saturado (g)12,4
Ácido Graxo Monoinsaturado (g)36,9
Ácido Graxo Poliinsaturado (g)10,6
Colesterol (mg)0
Carboidrato (g)37
Cálcio (mg)53
Fósforo (mg)554
Ferro (mg)5,3
Potássio (mg)689
Sódio (mg)814
Vitamina A (UI)0
Vitamina A (Retinol Equivalente)0
Tiamina (mg)0,55
Riboflavina (mg)0,23
Niacina (mg)2,3
Ácido Ascórbico (mg)0


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