19 de nov. de 2013

JANELA LOW BPM VIRTUAL DJ SET






Ah, a janelinha do avião. Eu faço qualquer coisa pra sentar nessa janelinha.

Eu votaria em um candidato que fizesse questão de sentar na janelinha do avião presidencial.

Eu pediria uma mulher em casamento se ela brigasse comigo para sentar na janelinha do avião sendo muito óbvio que eu não cederia o lugar, mas amaria ela por isso.

Os melhores amigos gostam da janelinha do avião, as melhores pessoas jamais abrirão mão da oportunidade de olhar o mundo lá de cima pela janelinha.

Eu adoro o conceito distorcido de status incutido na frase "coisa de pobre sentar na janelinha".

Perceba, quem diz isso são os mesmos que se acotovelam para descer logo do avião no aeroporto com aquela expressão "a minha pressa é mais importante que a sua alegria" capaz de tornar qualquer ser humano feio e amargo.

Pobre é tentar parecer importante aos olhos de estranhos, pobre é não gostar de olhar o mundo de cima das nuvens, é ser tão desinteressante em seu mundinho a ponto de fingir achar (ou achar de fato) o mundo ao redor sem graça.

A janelinha do avião é um exercício de paz e reflexão. 
E imaginação.



"Come hell or high water!!"

Quando o avião está acima das nuvens eu invariavelmente penso se não existiria um lugar melhor para se viver ali, onde todas as meias fossem descartáveis e as louças comestíveis, onde ninguém te oferecesse Nescafé, com Coca-Cola gelada saindo das torneiras e onde a pena de morte seria enfim instituída para todo imbecil que tivesse a coragem de perguntar "pode ser Pepsi?".

Um lugar onde pinhão fosse considerado fruta e seria a fruta da estação o ano inteiro, onde todos os peixes já sairiam da água pré-fritos e à milanesa, onde livros ainda fossem lidos e pessoas ainda seriam mais interessantes que aplicativos de celular.

Um lugar onde os comissários e pilotos falariam português e inglês e não aquele dialeto bizarro onde eles misturam ambas as línguas e erram em ambas.

Enquanto os pobres de espírito 5G ainda tentam manter a pose instagramando o ego e fazendo farofa-fa-fa comendo bolacha Piraquê do serviço de bordo eu pego só uma água e forço a vista para mais longe ainda me perguntando se aquela nuvem lá no fundo não seria enfim o tal céu canino como me foi prometido na infância.

E aí me pergunto se o meu finado cão Pluto estaria lá mas esse pensamento não dura dois segundos pois, sendo de quem era e fazendo o que eu pedia para ele fazer esse cão só pode estar agora no inferno, mordendo a canela do diabo como eu ensinei ele a fazer com todo mundo que eu não gostava ou me contradizia.

E fico feliz ao concluir isso pois o inferno é quentinho e terei um bom amigo lá.



"Até que enfim você chegou!"

Aí eu vejo as comissárias recolhendo os copinhos e me pergunto se em aviões com primeira classe elas servem pinhão na chapa e atendem nuas, só de luvas e salto alto.

E aí me pergunto se imaginar as comissárias trabalhando nuas, só de salto e luvinha branca, não seria muito exagero da minha parte, um biquíni seria ótimo também. 



"É você que tem um blog né, qué mais uma barrinha de cereal? Qué né, eu sei que cê qué!"

As nuvens abrem e aparece lá embaixo o que sobrou da mata atlântica e eu penso se não seria bacana arrancar logo tudo de uma vez e plantar apenas milho, maçã, pinhão e melão assim teríamos milho, maçã, pinhão e melão o ano todo pra poder almoçar todo dia milho com maçã de sobremesa e jantar pinhão e depois melão indefinidamente ATÉ MORRER. 

O McDonalds teria hamburguer de pinhão com molho dijon, nuggets de pinhão e sobremesa McFlurry de paçoca de pinhão. 

Aparece uma praia lá embaixo e eu imagino se ela não seria uma praia de nudismo feminista onde apenas as mulheres ficam nuas mas logo penso estar sendo machista por pensar desse jeito e concluo: topless então, de topless e scarpin, assim todo mundo fica feliz. 

Afinal homens gostam de peitos e topless e scarpin nunca saem de moda.
Free the nipples, and the stilettos.

E assim o voo segue, olho para o horizonte novamente e logo imagino outro avião ultrapassando o meu e então reconheço uma ex-namorada na janela, trocamos tchauzinhos e levamos o seguinte diálogo com o típico abre e fecha de boca de quem está falando sem emitir som:

eu - "e aí!!!"
ela - "oiiiiii!!!"
eu - "tá indo pra São Paulo também??"
ela - "hã??"
eu - "São-Pau-looo!!"
ela - "não, Rio-de-Janeirooo!!"
eu - "hã?"
ela - "Riooo!!"
eu - "haha sim, frioooo!!"

Faço pra ela o famoso joinha de "até uma próxima encarnação" e ela sorri azedo. 
Nunca entendia o que ela falava mesmo. 

O avião dela ultrapassa pegando a via expressa aérea e eu concluo: "mal educada, ultrapassa pela direita".

A janelinha do avião é também um espelho do nosso humor.

Em bons momentos eu vejo as cidades lá de cima e imagino um mundo sem DST e pinhões cozidos no pé e já sem casca em uma enorme orgia sem culpa onde todos morreríamos ou de transar ou de tanto comer pinhão no pé. 

Ou transar de pé comendo pinhão.
E melão de sobremesa.

Em maus momentos eu já imagino as mesmas cidades com todo mundo pegando HIV e quem não morresse disso na hora aquele cogumelo atômico lá na frente daria um jeito no resto ou seja, morreriam todos ou de AIDS instantaneamente ou de queimadura causada pelo calor e radiação nucleares ou de AIDS e radiação ao mesmo tempo com trilha sonora do Slayer ao fundo e adivinhe só? 

Enquanto lá embaixo o mundo pega AIDS e fogo eu mataria todos os que estão no avião, pousaria sozinho e todo o pinhão do mundo seria meu, só meu.



"Hey Green Valley, vai tomar no cu!!"

Porque feliz é quem senta na janelinha e deixa a imaginação voar junto, pro bem ou pro mal da humanidade.

Eu imagino jogar um tomate lá de cima e ele acertar a sua testa.
Eu imagino um saco de xixi caindo na cabeça do Bono Vox.

Eu imagino a mulher mais linda do mundo sentando do meu lado e eu levaria ela para ver a borda da terra plana e diria:

- Gata, um dia tudo isto será seu, o planeta é finito mas o meu amor por você não, vou jogar catupiry na borda do mundo gata, quando o aquecimento global vier e ele derreter vai ter praia de catupiry só para você.

Eu imagino um mundo com cocos sem casca, mangas sem caroço e costelinhas de porco sem osso.
Chuva de M&Ms, tempestade de bala Toffe, temporal de Sucrilhos, baldes de Danoninho, banheiras de Yakult e piscinas de Polenguinho.

Afundar até os joelhos num lamaçal de Nutella, cair de cara numa duna de paçoca e escorregar em pedregulhos feitos de bala 7 Belo. 

Porra como o mundo poderia ser mais justo, delivery de bolinho de arroz, band-aid comestível (você comeria não me julgue), torneiras de Coca-Cola pela cidade.

Olho para baixo e vejo uma cidade dessas que só quem mora lá sabe o nome e dois prédios que parecem ser as duas únicas fábricas da cidade e imagino se não seriam as miológicas fábricas de pozinho de macarrão instantâneo e do lado a de açúcar daquela bala ácida e imagino também quão fácil seria assaltar ambas com dois caminhões, quatro homens armados, coletes à prova de balas, granadas e... deixa pra lá.

Olho para frente começo a me perguntar que se você pode pagar pelo excesso de bagagem na hora de embarcar num avião isso significa que existe espaço no avião - e só estão tentando tirar mais um dinheirinho de você - ou o avião já está no limite e pode cair por excesso de peso - e só estão tentando tirar mais um dinheirinho antes de você morrer?

Se desse pra abrir a janela durante o voo eu ficaria com as mãos pra fora o tempo todo mandando uma banana pra todos vocês mas como não se pode ter tudo na vida então eu apenas imagino.

Você imagina coisa muito melhor ou pior, tenho certeza, embora não admita pois precisa descer logo no aeroporto. 

Nem ligo, pode descer na minha frente, eu pretendia olhar a sua bunda de novo mesmo.

Bom, se ainda assim você não entende os motivos pelos quais eu gosto de sentar na janelinha fique apenas com esse sucinto poema:

"De Floripa sempre saio com uma mão no coração
Em Congonhas sempre desço com o cu na outra mão
Ainda bem que o piloto é playboy e sempre puxa o freio de mão
Porque eu sempre farei questão da janela do avião"


Em algum momento do seu dia ou da sua noite esse set vai servir pra alguma coisa.
De manhã, tarde ou noite. Ou dirigindo, ou viajando de avião.



TM Juke
Jim Ozbarough
Alice Russel
Liquid Sound Design
Mr. Scruff
Ave Blaste
Lopez
Visit Venus
Kaminanda
Guts
Calibre
Goodie Mob
Brooklin Funk Essentials