A história deste blog.
Esse blog começou em maio de 2010 como uma brincadeira, eu gravava sets para mim com as minhas músicas favoritas no Virtual Dj para ouvir depois em casa ou no carro. A intenção era ter os meus sets em um link único e passar para os amigos e as pessoas quando conversasse com elas sobre música.
Até evento no Facebook eu fazia na cara dura para divulgar, e ainda fazia postagem marcando todo mundo.
Era bom ser chato por uma causa justa (compartilhar música), agora no máximo mando para algumas (in)felizes pessoas que eu acho que podem realmente curtir ou se identificar.
Em 2011 a moda era falar sobre bullying e então algo bizarro aconteceu, escrevi um texto idiota falando que eu sofria bullying por não gostar de Beatles, cebola e sushi e o blog bombou.
De link em link meu texto chegou em algum site ou blogueiro ou digital influencer ou RSS conhecido e aí só dessa postagem foram quase 7 mil visualizações.
Rolou um tweet de alguém da banda de apoio da Banda Calypso ou da Cheiro de Amor (ou Asa de Águia haha, eu não lembro quem, mas teve) concordando comigo e me apoiando como se o meu texto fosse sério e algumas postagens de hipsters haters defensores de Beatles e sushi e cebola fazendo propaganda para mim involuntariamente.
Óbvio que era um texto horrível, apesar de eu lembrar dele ser divertido.
Eu também gravava CDs e deixava no porta-luvas do carro para dar de presente e também deixava alguns em lugares pela cidade como bancos de praça, pontos de ônibus, portas de prédios, agências de correios e bancos.
Levava também nos bares e restaurantes para os garçons, gerentes e caixas e no arquivo tinha sempre um bloco de notas com o meu email, o link do blog, meu telefone e a frase:
Se gostar, me chama pra tocar.
E não é que chamavam?
A ideia era espalhar música e assim fizemos.
Foi com um CD desses que começou a Sounds in da City na beira mar e logo depois vieram as Quartas do Montag no Blues Velvet e mais projetos e participações e convites e festas e lugares como Slow Dance Society, Porão 1007, Blues Velvet, SOM, Wild!, Fullhouse, Jivago, Barbarella, Nomuro, Mustafá, Confraria das Artes, Café dos Araçás, restaurantes, barzinhos, pousadas, puteiros, churrascos, afters, noivados, aniversários, exposições, despedidas e formaturas.
Teve até uma gravidez nada acidental que só fui descobrir este ano, onde eu participei indiretamente digamos assim, sinal indiscutível de que meus sets são realmente bons.
Fui literalmente o padrinho virtual do Virtual Dj.
E claro, o Peter, que teve a audácia de fazer uma festa no Vietnam (sim, no Vietnam) tocando apenas o
meu CD.
Segundo ele todo mundo se divertiu.
Recebi convites para as Rádios UDESC e Itapema e aquele bar dentro do CIC, pena que não se concretizaram.
Eu só precisava de uma mesa, um mixer e uma caixa de som de preferência com muito grave e toquei muitas vezes sentado, eu amo tocar sentado igual tiozinho de teclado de churrascaria.
Dançar é algo tão ultrapassado, legal é ficar encostado nas paredes, olhando o movimento e curtindo o som. As minhas melhores plateias inclusive também ficavam geralmente sentadas ou encostadas em bares, happy hours e restaurantes.
Meu maior prazer era olhar para essas pessoas e ver que mesmo conversando ou rindo ou beijando elas dançavam aquela maravilhosa dancinha de concordância com a cabeça e os pés. É o maior elogio para um Dj na minha opinião, ter a atenção de quem não está ali para te ouvir em um ambiente onde você não é o centro das atenções e em vez de uma cabine, um cantinho.
E se é para ver gente fritando que seja bolinho de arroz, eu trocaria fácil uma gig no Warung por um mês de bolinho de arroz de graça.
A galera sonhando com backstage da Tribaltech e eu querendo fazer turnê pela via gastronômica de Coqueiros.
A galera querendo tocar na Terraza, Trip to Deep e Troop e meu maior sonho sempre foi ser residente da Trattoria do Guto.
Ibiza? Bem mais o Brewmille.
D-Edge? Porra, e o Dog do Piru??
Muitas vezes toquei de graça ou recebia o cachê em bebida (alguém bebia por mim) ou por comida (eu dava conta de comer tudo) e o meu backstage nunca teve champanhe em taça de plástico, mas batatinha frita nunca faltou.
Eu só queria ouvir por aí as músicas que eu gostava de ouvir em casa ou no carro, num volume mais alto.
Deu certo, enganei todo mundo e de vez em quando ainda recebia por isso.
Eu nunca quis ser Dj mas nada contra, TENHO ATÉ AMIGOS QUE SÃO.
Mas claro, nem tudo são flores, gente escrota é mato em qualquer cena artística e às vezes a gente rega a semente errada ou joga a nossa semente no terreno errado ou até roubam a nossa colheita mas adivinha? Uma erva daninha pode destruir um jardim inteiro mas no fim ela sempre consome a si mesma, o tempo e a lei do retorno são absolutamente infalíveis e seguimos em frente de cabeça erguida.
Como diz o ditado: só te ataca pelas costas quem está atrás de você. A gratidão é reflexo do caráter da pessoa, dorme bem quem faz o bem e só reclama das lições da vida quem se recusa a aprender com elas. Mãos sujas pra mim só se for de plantar novas sementes.
E como plantei.
Eu sinceramente nunca tive saco para trabalhar de fato no meio artístico, arte no brasil é muito cruel e antes mais um amador realizado que outro profissional frustrado, minha motivação era juntar umas musiquinhas e ver pessoas sorrindo.
Foi tocando e convivendo nesse meio de festas que aprendi algo muito engraçado e curioso sobre pessoas: algumas você pode conviver por anos seguidos, mas no momento em que você perde o contato ela se torna descartável, completamente esquecível.
Outras você perde contato por causa das voltas da vida mas o carinho fica.
Já outras você pode ver, conversar e rir por apenas uma tarde ou noite, anos atrás, mas ela de alguma forma segue sempre com você, mesmo sem contato nenhum.
É incrível saber como algumas pessoas tem essa energia ou melhor ainda, essa sintonia. Eu chamo de pessoas-risquinho, elas passam por você, deixam um risquinho no seu coração que sempre vai coçar, você vai lembrar com carinho em algum momento e sorrir.
E rezar para você significar o mesmo para elas.
Em quase dez anos eu toquei de tudo, coisas que só eu toquei e só eu podia tocar. Acapellas de Roberto Carlos e Black Sabbath, Britney Spears e Queens of the Stone Age, Erykah Badu e Bob Marley.
Dubstep com MPB, Soul Music com Drum and Bass, Heavy Metal com Funk.
Diálogos de filmes e poemas do Def Poetry Jam.
E sempre fazia sentido, o contexto sempre encaixava e sempre aparecia alguma pessoa perdida me olhando com aquela cara de "olha o que esse maluco tá fazendo".
Eu poderia escrever eternamente sobre como é especial ver a expressão das pessoas ouvindo um estilo de música que elas não esperavam ouvir, dançando um ritmo que elas não sabiam como dançar e gostando de algo que se você dissesse o nome do estilo antes, elas torceriam o nariz.
Sempre alguém vinha puxar papo e conversar o melhor assunto de todos: Como a música é uma só e rótulos só servem para quem precisa vender ela ou para se vender.
E mais divertido ainda, o olhar de pânico dos Djs "de verdade" me vendo tocar com a mãozinha no mouse não tem preço, rir sozinho da própria piada pra mim é atingir o nirvana do humor.
E ao contrário da maioria gostar de dizer (mentir) que tocou "pra uma galera" e "todo mundo enlouqueceu no set" a minha maior alegria sempre foi tocar para ninguém, apertar o play com a pista vazia e tocar pro pessoal das casas se ajeitando para trabalhar e ver a noite começando, a galera entrando e se aquecendo.
No warm up a música ainda está em primeiro lugar, criam-se vínculos e conexões reais e as pessoas ainda estão cheirosas e conversando de forma compreensível haha. E não interessa qual Dj topzera internacional venha depois, a qualidade de uma festa se define pelo warm up, todo o resto é consequência.
Mas se eu sempre tocava para pouca gente ao vivo e gostava disso por outro lado é uma sensação muito legal saber que centenas e até milhares de pessoas já ouviram sets meus em casa, no smartphone ou no carro. Quando, como e onde elas queriam e com quem elas queriam, é como se eu tivesse feito uma turnê gigante tocando na casa de todo mundo.
Inclusive na minha opinião todas as festas deveriam ser extintas e os Djs deveriam apenas gravar sets, pra quê sair de casa e pegar fila, gastar com Uber só pra ver Dj se o Dj pode ir até você? Uma espécie de IFood musical, você clica e o Dj aparece na sua sala.
Em 2015 começou a rolar a Bend e em 2016 convidei a mim mesmo para tocar nela haha e aí gravei o Limão e postei de novo no blog com um texto sobre o coitado do meu ex-colega de trabalho e vizinho involuntário e bombou de novo.
Aí em seguida vieram as festas de sucesso mais falidas (ou o contrário) da história: Room e Odisseia com o Adilson, a Beam me Up! com o Moka, a Universe com o Edu M e o Allen, a Maze com o Oriano, Selzlein e Bruno e a Bomb.
Todas mal se pagaram e/ou deram prejuízo mas foda-se, a gente se divertiu e a gente tentou, só quem tenta colocar a música em primeiro lugar e ser original sabe o trabalho, ainda mais dependendo de venda de ingresso em uma cidade e país onde as pessoas parecem não querer pagar nem o próprio velório.
E o que mais interessa: teve Dubstep, Trip Hop, Low Bpm, Música Psicodélica, MPB, Funk, Nu:Disco, Disco, House, Drum and Bass, Techno e Hip Hop e fico feliz de ter estado e tocado em todas.
Era muito bom acordar e lembrar que na noite anterior teve algo realmente diferente na ilha, onde a música estava de fato em primeiro lugar e eu era um dos responsáveis.
Como eu sempre falo, pra fazer o que todo mundo faz e curtir o que todo mundo curte já existe... todo mundo. Música é um universo infinito demais para ser ignorado ou reduzido ao padrão 4X4.
Minha única frustração foi nunca ter conseguido fazer uma festa de Dub que se chamaria Horn, teria uma única edição e eu compraria dezenas daquelas buzinas de ar comprimido pra todo mundo ficar surdo junto comigo.
E eu iria trazer o Cleiton Rasta pra tocar nela, já tinha negociado tudo.
E por quê? Porque além de outras coisas as exigências dele foram "um cantinho pra dormir, chuveiro quente, carona pro lugar da festa, uma tomada pra ligar meu laptop, som alto e pagar o meu cachê".
Sim, o Cleiton Rasta toca com Virtual Dj.
Pensa, LFMontag e Cleiton Rasta Virtual Dj Set ALL NIGHT LONG. E vocês iriam me ver bancar o MC e ainda cantar Reggae.
Em 2017 escrevi um texto sobre a minha vó e pistaches e um set de Drum and Bass e muita gente adorou também.
Em 2018 tive a oportunidade de tocar no encerramento da Bend, convidado por mim mesmo de novo. Eu virei "Dj" porque nunca ninguém tocava o que eu queria ouvir então não me culpem, a Bend também era a festa que ninguém fazia pra mim, então tudo ok.
Esse ano fazendo um back up do laptop para dar ele de presente do nada bateu saudades de gravar e com a inspiração e um monte de música boa e gravei o Gengibre pra acompanhar o Chá e o Limão e depois dois textos super bonitos, um sobre cachorros e outro sobre vaga-lumes com dois sets de Drum and Bass, Castanha de Caju e Amendoim, pra acompanhar o Pistache.
Muita gente se divertiu e se emocionou com esses textos e eles me fizeram muito bem também, foram ótimos exercícios mentais e, principalmente, naturais. Dois textos que aliás me renderam dois convites maravilhosos e não vejo a hora de publicar sobre.
Aí gravei a Pipoca Mixtape lindona com trilhas de alguns filmes e séries e agora decidi encerrar semana passada escolhendo mais uns sons e gravei mais um set lindão.
Óbvio que eu amo os meus sets, tem muita pesquisa, história, referência, carinho e contexto neles e se eu não gostasse por que perderia tempo compartilhando? Escolhia, gravava, escutava, gostava, postava.
Virtual Dj pra mim sempre foi algo tipo "não reclame dos Djs, junte as músicas que você ama e faça seus próprios sets pra ouvir quando quiser", é a minha própria comfort music.
Muito mais que acertar mixagens eu acho maravilhoso achar soluções musicais e juntar músicas e temas e fazer algo musicalmente interessante.
Como já disse eu amo trilogias mas também tenho mania de números pares, então agora gravei o Café com a mesma sonoridade pra fazer companhia pro Janela e o Verão e ter dez postagens no blog.
Dez sets de tudo quanto é estilo (uma trilogia de Dub/Jazz/MPB/Trip Hop, uma trilogia de Drum and Bass, uma trilogia de Funk/Groove/Disco Music e uma mixtape de trilhas sonoras) e seis textos, um sobre o pobre do meu vizinho Bira, sobre cachorros e a vida adulta, um sobre insônia e vaga-lumes, um sobre janelas de avião, um sobre as baladas e um sobre cinema.
Foram mais de 15 mil visualizações totais em 9 anos (mas em apenas 6 anos de postagens irregulares), uma média de 1.500 acessos por ano ou pouco mais de 100 por mês. Para uma brincadeira e por algo feito pra mim sem compromisso uma ou duas vezes por ano (as vezes nenhuma) está sensacional. A participação hoje em dia é bem menor mas felizmente sempre acima do esperado.
Sabe como é, a política, o narcisismo e os algoritmos criaram ódio, tédio e isolamento generalizado nas redes sociais (tem quem se ofenda até por você gostar de compartilhar músicas e textos). Foi-se o humor, foi-se a ironia, foi-se a comunicação mas paciência, ainda sobrou um espacinho pra dividir coisas boas.
As pessoas não se expressam mais, apenas se exibem, todo mundo agora parece viver o seu próprio reality show e ao mesmo tempo todos os espectadores estão entediados e ninguém parece querer se livrar disso.
Cada vez mais se dá importância para desimportâncias e se criam campos de negatividade então qualquer empurrãozinho para o lado da música e do amor é válido, pessoas vem e vão e o importante é deixar boas lembranças.
O Instagram ironicamente ainda deu uma sobrevida então além de eu ser o cara que odeia Djs que fazem festa só pra tocar e eu mesmo fazia festa só pra tocar eu também sou o cara que odeia Instagram e eu mesmo tenho postagens com [LINK NA BIO] escrito.
Eu só posso ser o pior.
Mas a ideia era espalhar música como já escrevi, então o objetivo foi muito bem alcançado. Amor e carinho só não absorve quem não tem o mesmo para oferecer, vale para as coisas pequenas, vale para pessoas, vale para a vida.
Resumindo, podem me xingar de Dj e blogueiro porque eu vou levar como elogio dessa vez mas vejam pelo lado bom, vocês nunca precisaram ver presskit meu por aí com aquelas poses de Robocop olhando pro nada e nunca fiquei no after com pendrive no bolso esperando a minha vez de virar uma.
E claro, foram preciso dois anos de uma pandemia para muita gente começar a fazer o que eu fazia e
defendia duramente dez anos atrás: Procure bares, toque música e deixe as pessoas se levarem sem que elas sintam a obrigação de gostar de você.
Mais Virtual Dj, menos Virar Uma.
Meu último set no meu amado Laptop Dell Windows XP Virtual DJ Mouse Luminoso Fucking Classic. Hora de formatar ele e dar de presente pra um molequinho muito lindo aqui da Serrinha.
E olha, como despedida tá legal hein, sempre no formato senoide musical subindo e descendo. Tem Funk, Low Bpm, Nu:Disco, New Soul, House Music, tem Reggae, tem música.
Tem 78 Edits, 6th Borough Project, Black Sabbath, Mr. Sasquatch, Kalya Scintilla, Milez Benjiman, Photek, David August, Data, Night Riders, Queen, Chemical Brothers, HotBox e Fat Freddy's Drop.
Tem até Martin Luther King.
Pode ouvir de manhã, depois do almoço, de tarde, de noite, no carro, na faxina (já testei) ou esquenta pra noite, sozinho ou acompanhado, uma horinha e dezessete minutos de puro groove, quem ouvir vai derreter e dá até pra dançar.
Obrigado todo mundo por tudo, aos agregadores tudo, quem esteve junto sempre sabe. Ter mais pessoas pra agradecer que a memória permite lembrar é uma das dádivas da vida.
Num mundo cada vez mais feito de coisas grandiosas e desimportantes é bom bom olhar para trás e ver coisas importantes feitas a partir de outras aparentemente pequenas.
Café é para acordar, é para aquecer, é para viver.
6th Borough Project
78 Edits
Arabica
Baron Goto Red
Ben La Desh
Black Sabbath
Blue Mountain
Bourbon
Catuaí
Caturra
Congencis
David August
Data
Dj Steef
Dybowskii
Excelsa
Fat Freddy's Drop
Geisha da America Central
HotBox
Icatu
Jona Saucedo
Kalya Scintilla
Kent
Kona
Kouillou
Laurina
Liberiano
LNTG
Maragogipe
Martin Luther King
Mauritiana
Milez Benjiman
Mr Squatch
Mundo Novo
Neo-Arnoldiana
Night Riders
Paca
Pacamara
Pache Colis
Pache Comum
Peaberry da Tanzânia
Photek
Purpurescens
Queen
Quênia AA
Racemosa
Racemosa Lour
Robusta
Ruiru 11
San Ramon
Sulawesi Toraja da Indonesia
The Chemical Brothers
Timor Hybrid
Typica
Villalobos